Eu era bastante nova, mas lembro-me bem de não haver luz eléctrica. A casa da minha avó tinha um gerador de energia, dificílimo de pôr a trabalhar. Fazia um barulho ensurdecedor. Esse gerador alimentava a nossa e a casa do lado. Só o meu avô e os meus tios tinham força para dar à manivela.
Alguém se imagina nos dias de hoje a dar insistentemente à manivela para poder acender a luz? Para ver televisão? Não, pois não? E se eu disser que muitas casas nem tinham gerador? As pessoas andavam por casa, quando anoitecia, com candeeiros a petróleo, em pleno século XX. Só de estar a escrever sobre isso, parece que me vem o cheiro ao nariz. gerador de energia eléctrico
candeeiro a petróleo vulgar
Quando caía a noite, não havia iluminação nocturna nas ruas, apenas em alguns dos “cafés” que tinham gerador.
As pessoas conversavam à porta de casa, envoltas em penumbra, muitos usavam lanternas (conhecidas como foxes por estes lados) para alumiarem os caminhos. Na minha casa antes de partir para a faina, o meu avô ligava o gerador para que se acendesse a televisão. Ou seja, víamos televisão à noite, nunca durante o dia. Esse gerador ligado dava energia para que outro gerador puxasse a água do poço para o depósito. Esse pequeno depósito de água é que abastecia as torneiras e a canalização da casa. Durante o dia, para poupar a água do depósito, era tirada água do poço a baldes. É claro que também não existia sistema de esgotos. Os dejectos iam para fossas sépticas.
As coisas mudaram tinha eu uns oito ou nove anos de idade. Depois de muito batalhar as luzes da Ilha da Culatra acenderam pela primeira vez... lembro-me de até ouvir aplaudir quando o teste foi feito.
A situação foi festejada com um baile tendo como artista convidada Alexandra.
A História de uma pequena grande comunidade do mar, rodeada de mar, que vive pelo mar. Em pleno coração da Ria Formosa: a Ilha da Culatra e suas gentes. (a autora do blogue não funciona como intermediário de qualquer tipo, nem este serve fins promocionais, turísticos ou de outro género)
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