Este blogue foi útil?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Festa da Ilha da Culatra - em Honra da Nossa Senhora dos Navegantes


 Decorre sempre no primeiro fim de semana do mês de Agosto, na Ilha da Culatra a festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira da Ilha e seus pescadores. Isto quer dizer que foi este fim de semana.

Fotos by: Lúcia Luz
Procissão em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes - Foto por Lúcia Luz


Procissão em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes - Foto por Lúcia Luz 




Procissão em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes - Foto por Lúcia Luz 

Preparação e ingredientes:
Antes da festa começar já há quem corra a ilha recolhendo objectos para rifar no bazar. Na minha infância, faziam-no porta a porta, o que dava um infindável rol de objectos diferentes como canecas, brinquedos, canetas, roupas, shampoos, escovas de cabelo, toda a gente comprava qualquer coisa para essa recolha.  Nos cafés, um grupo grande de mulheres e adolescentes enrolam os papéis com destreza para depois misturar aos que têm prémio.
Nos dias da festa, esse bazar cujos fundos são para ajudar a Associação é muito concorrido, principalmente pelos mais novos que gostam de tentar a sorte e de desenrolar papelinhos.

Além disso, algumas mulheres e crianças (ligadas à Associação Nossa Senhora dos Navegantes e à Comissão de festas) juntavam-se no "salão" (nome dado ao recinto polidesportivo na Ilha da Culatra, onde não apenas se joga futebol de salão, como também se organizam quase todos os bailes da ilha), recortando bandeiras em papel vegetal, que colavam ao longo de cordas enormes esticadas por toda  a sua largura, tornando este salão um labirinto de cordas presas muito baixo para que se possam colar as bandeiras.
Uns dias antes já estão todas as ruas principais da ilha  cheias de bandeiras multicolor, penduradas em cordas que passam os telhados das  casas (depois de haver electricidade, também passam nos postes eléctricos), colocadas por alguns homens da Ilha.


Decoração da Ponte com canas e bandeiras - Foto de Lúcia Luz



Além das decorações, há a tarefa de montar o bazar, de madeira, geralmente com um alpendre, tarefas que lhes compete a eles também. Por trás destas coisas todas há sempre uma pequena multidão a preocupar-se e a dar o seu melhor para que a festa seja bem bonita, que esteja tudo pronto no dia.
E além dessas vicissitudes decorativas, há também que organizar tudo. O baile nos dias da festa tem sempre artistas a abrilhantá-lo. Tem de haver comida, bebida, foguetes, e já para não esquecer a organização da parte fulcral: a procissão.
Os barcos de pesca que levam as imagens por esta altura já são conhecidos, pois foram sorteados (antigamente havia muitos para sortear, agora já são menos) e os respectivos mestres e famílias também se preocupam com o embelezamento para a procissão.
É rara, também, a casa que não está pintada de novo no dia da procissão.


A Festa em Honra da Nossa Senhora dos Navegantes é dinamizada e preparada pelo Clube União Culatrense.

As festividades começam na Sexta-Feira, já com o baile. Hoje em dia muitas pessoas visitam a Ilha para o fim de semana, e há noite já há baile.

Sábado:

Foto: Selma Nunes
No Sábado bem cedo, quando a poucas horas do Sol ter nascido, os foguetes rasgam o céu e começa a ouvir-se os sons de vozes, às vezes através de megafones, e com a música bem alta, indicativo de festa, sons que fazem levantar da cama até os mais resistentes. Eu sempre o fiz protestando. Começam os jogos tradicionais, como corrida de sacos, a caça à moeda dentro do alguidar da água (sem utilizar as mãos), entre outros e os disputados torneios de futebol, que originalmente dividia duas partes da Ilha da Culatra, eram "Poente" contra "Levante", de acordo com o lugar da Ilha onde moravam, "Solteiros" contra "Casados" que sempre existiu em versão feminina também. Este ano abraçou os mais jovens e o torneio de futebol de 7 foi dos 5 aos 16 anos. Abre também o bazar. Pela hora de almoço já cheira a carne e peixe assados debaixo do toldo e há torneios de tudo e mais alguma coisa, por exemplo, matraquilhos.
Este ano até houve a "Festa Sunset" com o Ricardo e João Badalo e dança "Stand Up", pois cresceu na Ilha uma nova Associação - A Associação de Jovens, que tem vindo a completar os programas de festas com actividades para a juventude, principalmente, música e dança.

Quando antes os artistas que actuavam eram todos importados nos dias de Festa, a Ilha da Culatra agora já tem alguns jovens que seguem os primeiros passos na música e que alegram as hostes festivas.


E a tarde vai passando, sempre com muitas actividades, muita festa, bebidas e comidas e toda a alegria deste povo culatrense, homens, mulheres, novos e menos novos.



À noite, depois de jantar, as pessoas juntam-se nos cafés em alegre convívio e caminham até ao salão, transformado em baile, que tem sempre um artista diferente para os receber. Este ano foi o "Conjunto Fábio Lagarto" com a actuação do grupo "Ivete Mangalho" e lá para o fim o DJ Joni

Domingo:
Apesar da hora tardia em que o baile termina, a alvorada às sete da manhã é o ponto de referência para mais festa, mais jogos tradicionais, e a tão almejada corrida de barco a remos "Saveiros".


Corrida de Saveiros, jogos tradicionais: fotos de Lúcia Luz


Este ano, houve também a apresentação de um livro que fala bastante na Ilha da Culatra, pois foi escrito por um primo meu, que passou a infância na Culatra, antes de ir para Luanda, sendo obrigado a regressar com a família numa traineira, sem condições, quando a situação em Angola se tornou insustentável. Esta obra "Odisseia Marítima - Luanda/Olhão - O Regresso em Traineira" de Baldomiro Soares, fala nas gentes da Culatra, nas famílias da Culatra e também conta a aventura a que se sujeitaram na embracação "Sabino I" - hoje em dia "Selma", numa narrativa de cortar a respiração.

Procissão:

 Foto por Lúcia Luz 
Foto por Lúcia Luz 


Nossa Senhora do Rosário:  Foto por Lúcia Luz

Foto por Lúcia Luz
Foto por Lúcia Luz

Foto por Lúcia Luz




O que torna a procissão Nossa Senhora dos Navegantes da Ilha da Culatra diferente? É parcialmente feita de barco, como em algumas comunidades piscatórias em Portugal, mas à maneira da Culatra.
Depois de almoço os barcos estão todos decorados com as suas bandeiras multicolor, de todos os tamanhos e feitios. As famílias vão dentro dos barcos, pequenos e grandes, num frenesi, qual caravana festiva, Ria Formosa adentro até Olhão, com um dos barcos sorteados com a imagem da Nossa Senhora dos Navegantes, que sai da sua Capela e embarca  para ir esperar ao cais de Olhão pela Nossa Senhora do Rosário, padroeira de Olhão.
No meio de muitos vivas, preces, buzinadelas, roncar de motores, palmas, foguetes, e todo o tipo de barulhos humanos e maquinais, o cortejo segue até Olhão e é recebido pelas gentes de Olhão, que se apinham no cais para ver chegar a comitiva. É alegria e devoção.
A Nossa Senhora do Rosário é embarcada no barco que lhe cabe em sorte, a banda de música (este ano a Filarmónica 1º de Dezembro de Moncarapacho) e o Sr. Padre.
Quando as embarcações chegam à Culatra, as imagens são desembarcadas na ponte e uma vez à frente da Capela Nossa Senhora dos Navegantes, é celebrada a Eucaristia Solene, presidida pelo pároco de Olhão (Sr. Padre Luís Gonzaga), seguida de Procissão pela Culatra, sempre com muita religiosidade e muitos vivas. Segue o Sermão ao recolher da procissão.
Então a imagem da Nossa Senhora do Rosário, de Olhão, é levada de volta para casa.

Depois:
Se se pensa que a população da Culatra está cansada após tantas actividades e que quando a procissão já esta finalizada vão para casa dormir, estão a ser ingénuos. Esta minha gente tem muita energia, que lhes vem dos benefícios do ar puro e do peixe fresco. Ainda há baile a seguir, foguetes, fogos de artíficio.
As coisas agora estão um pouco diferentes, na minha infância fui terminantemente proibida de ser louca e ir a correr à procura das canas dos foguetes, mas havia quem o fizesse. Tinham medo que nos rebentassem nas mãos e com razão. Não tenho conhecimento de que agora isso seja sequer possível... mas era interessante para nós apanhar qualquer coisa que tinha estado mais alto que nós e que tinha feito um psssssssssssssst pum pum... puuuuum que fazia com que gatos e cães se escondessem debaixo das camas a tremer.
Mas entre foguetes e fogos de artíficio (agora disparados mais longe, muito mais longe, penso que não seja possível ir a correr apanhar as canas) contudo a magia continua no baile e com mais artistas.
Este ano foi o DJ Rodrigo que fez as honras no salão de Domingo.

É assim que entre costumes pagãos e muita religiosidade a minha gente celebra a sua festa, com a alegria do costume. Foi assim que aconteceu, mais um ano.
Foto: Lúcia Luz






Sem comentários:

Enviar um comentário